Lua Cheia e eclipse lunar no eixo Capricórnio/Caranguejo

Lua Cheia e eclipse lunar no eixo Capricórnio/Caranguejo

Como é que Mercúrio retrógrado pode ajudar a criar chão em tempos de crise.

Lua Cheia e eclipse lunar no eixo Capricórnio/Caranguejo, estamos a chegar à Lua Cheia, este mês tivemos um eclipse do Sol na primeira semana e agora teremos um eclipse da Lua, na próxima terça-feira, no eixo Caranguejo/Capricórnio.

Teoricamente, falamos de carreira, status, responsabilidades, fios soltos do passados, coisas por resolver, autoridade, karma e sobre o nosso sentido de segurança.

O que posso dizer é que para mim este é um eclipse especial, calha em cima do meu nodo Sul e activa o meu eixo de evolução, este lugar (os Nodos Lunares) representa o lugar de onde viemos (nodo Sul) e o lugar para onde vamos (nodo Norte).

No meu caso o meu eixo é justamente Capricórnio/Caranguejo.

E este topo da Montanha, conheço-o bem e tu também, toda a espiritualidade ocidental baseou-se nele, toda a cultura ocidental edificou-se com um único objetivo – chegar ao topo da Montanha (Capricórnio). Capricórnio na sua sombra representa justamente o Patriarcado e as suas ramificações tanto a nível político quanto religioso. Palavras que podem ajudar a definir algumas das suas características quando este vibra na sua sombra são: autoridade, sucesso, resultados, responsabilidades, força, invulnerabilidade, entre outras que conhecemos tão bem, pois temos vindo a erguer-lhes altares na nossa cultura como se fossem Deuses caseiros, santos protetores das famílias, empresas e instituições públicas.

O Topo da Montanha

O Topo da Montanha pode representar tanto o sucesso profissional; o respeito e a consideração dos pares, da família, da comunidade etc…, mas também a busca pela iluminação espiritual, o pináculo de um evento de longa data, o culminar de um objetivo para o qual se trabalhou arduamente, o regresso à comunidade com algo para oferecer para o proveito de todos, enfim depende muito de pessoa para pessoa, o significado íntimo daquilo que cada um de nós alimenta em si como “o topo da Montanha”.

Deste Julho de 2018 que este eixo (vamos dar-lhe o meu nome pode ser? ) Topo da Montanha/Ventre da Mãe Terra, tem sido activado pelos eclipses, e assim o continuará a ser até 2020. Esta é uma fase desafiante para todos nós, para alguns países e pessoas será certamente mais desafiante do que para outros, dependerá da quantidade e qualidade da energia de Capricórnio/Caranguejo que trazem consigo, sobretudo quando Saturno chegar à conjunção com Plutão, uma coisa é cerca, o chão começa a tremer e tu já o sentes, talvez até estejas  a contrair os músculos, com medo do que sentes a aproximar-se, em vez de deixar que a tua imaginação tome conta e comece a criar o pior, este post serve para ajudar-te a dar-lhe rumo, a criar melhores imagens para sonhar e acolher este futuro incerto e tremido que se avizinha.

Acredito que até 2020 de forma geral este será o tema para todos nós: ver cair as estruturas cujos alicerces não foram bem cimentados, ver falhar sistemas que foram criados para controlar manipular e prever o imprevisível, domar e amordaçar o selvagem, caçar e extinguir a incerteza.

Re-ligar e conectar com a sabedoria da Terra.

Aprender a respeitar e a conviver com o que se esconde no ventre da memória, re-ligar e conectar com a sabedoria da Terra e dos nossos ancestrais já não é apenas um chamado ou uma escolha, é mesmo uma questão de sobrevivência e mais cedo do que mais tarde vamos perceber, que este ventre que chama por nós, é o lugar alquímico onde a verdadeira mudança de paradigma e de valores, onde a profunda regeneração dos nossos solos e das nossas águas internas, pode ocorrer, não há outro destino, nem outro lugar para onde ir neste momento.

Não queremos ficar presas ao passado, a um lugar escuro e húmido no fundo da terra, mas para que possamos construir um futuro com bases solidas, num topo de uma montanha, que seja flexível, amoroso e fértil (sim utilizei adjetivos ligados a Caranguejo, porque essa é a chave para chegar ao centro, trazer uma ponta à outra – Caranguejo a Capricórnio e vice-versa), para chegarmos a este lugar precisamos mergulhar no escuro húmido e palpável da caverna, encostar os ouvidos ao chão e ouvir as vozes que murmuram por nós e para as decifrar é preciso alimentar o fogo da imaginação.

Numa Lua Cheia (quando calha num eclipse a energia sente-se a dobrar)

lidas sempre com a dinâmica da sombra projectada no signo oposto, tens uma oportunidade para ver o que de outra forma está escondido, porque Mercúrio está retrogrado em Leão se conseguires acalmar e acolher o teu Ego, encontrando um veículo de expressão autêntica, talvez possas aproveitar este tempo para revelar, curar e rematar todo e qualquer fio solto que te tem impedido de evoluir, através da tua criatividade e expressão autêntica.

Todas fomos dotadas com um Sol, cujo objetivo é projetar a sua luz e vitalidade para o mundo, criando imagens autênticas de quem somos e de quem poderemos vir a ser, em Leão aprendemos ser nós mesmas, a tecer-mo-nos apartir da nossa própria essência (Self).

A criatividade no seu estado mais puro conecta-nos com o criador,

com a cura psíquica, reestrutura, re-conecta, energiza e faz renascer o que estava morto ou adormecido. Para cada uma de nós existe algo, algo que pode ter tanto de vulgar, quanto de excêntrico, mas que nos conecta connosco mesmas e consequentemente com o Todo, algo que não precisa de palavras, não precisa e apreciações ou justificações, a nossa medicina interna criativa, aquela que através dos atributos de Leão – brincadeira, criatividade, expressão, diversão, nos leva à resolução dos nossos males internos, aquela que revitaliza os terrenos cansados e drenados da nossa psique.

No início deste ano sentia-me vazia, ainda no rastro do luto pós incêndio, a trabalhar intensamente, cheia de ideias e inspiração mas todas baseadas na imagem que projetava para fora, a gastar as minhas reservas, sem a criatividade ou energias necessárias para me tecer e para me curar, tecer para mim representa a minha ligação com este ventre da mãe Terra que falo, quando toco os fios, toco a paisagem, quando construo um tecido, reconstruo-me de dentro para fora apoiada pela terra que me abraça e nada mais me proporciona isso de forma tão poderosa, só mesmo a construção de narrativas internas através de fios e fibras ( tecelagem).

Era óbvio que o luto dos incêndios tinha-me me sugado a beleza do corpo para fora, e o tempo passado comigo mesma era um tempo de luto, de tristeza e de indignação, e tantas outras emoções que para ser sincera nem sei dar nome, eu não queria sentar-me horas num projeto utilizando os fios pelos quais tenho tanto carinho e respeito, como cúmplices na expiação do meu luto. Para mim as fibras e os fios com que trabalho são sagrados, eles são o motivo pelo qual sou artista têxtil, o meu objetivo é sempre o de honrar os fios e todo o processo que estes fizeram para chegar às minhas mãos, eles são a minha forma de honrar terra, ar, fogo e água, que juntos através de uma dança circular consistente e meticulosa, fazem com que da jovem ovelha se produza a mais fina fibra, resultado de um intrincado processo de intima colaboração entre elementos a que eu dou o nome de paisagem. E esta paisagem é a minha casa, o meu chão, a minha porta mais direta para o Ventre da Mãe Terra.

Eu e as ovelhas somos intimamente cúmplices, trepamos as mesmas rochas, pisamos o mesmo chão e bebemos da mesma água. Somos parte do mesmo tecido vivo. Eu sofro elas sofrem comigo e eu sofro com elas, assim como as árvores, a água e tudo o que faz parte da paisagem que me faz ser gente, o meu lugar de acesso ao Ventre da Mãe Terra.

Aqueles meses após o fogo quando tanto estava morto, eu não queria deixar-me acolher pela natureza, eu não queria fazer parte de… eu queria defendê-la, acolhê-la , encontrar culpados para descarregar a minha raiva. Este lugar de querer lutar/defender é um lugar que apenas representa o quanto eu fui educada para me sentir acima de… responsável por…

Quando achamos que temos o poder de destruir ou preservar a natureza, estamos a colocar-nos fora e acima da mesma.

Somos natureza, os crimes que cometemos não os estamos a cometer a uma entidade separada de nós, não precisamos salvar este planeta. Precisamos salvar-nos, a todos (é a abrangência da palavra que precisa mudar), para proteger e preservar, primeiro é preciso amar e para amar é necessário conhecer e identificar-nos com… chegarmos a uma lugar de igualdade e reconhecimento mutuo, confiar e deixar-nos aninhar e alimentar pela Terra Mãe que nos pariu. Sem conhecer este lugar e pertencer a ele, como é que alguém pode em verdade proteger a natureza, sem entrar no velho paradigma da sombra de Capricórnio? O pior que pensamos já ter vivido, ela já o viveu, ela sabe acolher a nossa dor de uma forma que nenhum ser humano pode saber.

Se nos identificamos como estando fora da natureza, cortamos a nossa ligação com as nossas raízes, com o Ventre da Mãe Terra.

O Ventre da Mãe Terra é este lugar de colo e nutrição, de contacto com o mais real e verdadeiro no ser humano – a sua Memória.

É a memória que liga Passado-Presente-Futuro, é a memória que nos possibilita a capacidade de criar e sermos continuação em vez de ruptura, renascimento em vez de morte. De crescermos de forma sustentada e verdadeiramente sábia e prospera, até ao topo da montanha.

Ela é a mãe, nós os filhos.

E nestes meses vindouros até 2020 é mesmo importante que cuides das tuas raízes, e saibas reconhecer que paisagem é esta que te dá acesso à porta para o Ventre da Mãe, porque como já disse, estruturas estão a cair e…

Ao que te vais agarrar, quando o chão te faltar debaixo dos pés?

Se a estrutura que te apoia for a própria natureza e os seus ciclos, garanto-te: muito pode acontecer, tudo pode mudar na tua vida, mas a natureza não te falhará e tu vais sentir o seu abraço, mesmo nos dias em que amanheces desmembrada sem saber como encontrar as partes soltas de ti. Aconteça o que acontecer o Sol irá por-se no Poente e nascer no nascente.

A Terra continuará a girar em volta do Sol e a Lua dançará a sua dança cíclica voltando à mesma roupa a cada 28 dias. E a Terra se transformará para te ensinar a saberes Viver/Morrer e voltar a Viver com graciosidade, tal como as flores e as árvores.

Aproveita Mercúrio retrógrado para te encontrares com a tua criatividade, leva-a a passear, divirtam-se, tenham um encontro intimo e depois enterrem os vossos pés na areia, ergam os braços para o céu e sejam como as árvores, com raízes bem fundas na terra e os ramos flexíveis e maleáveis que majestosamente abraçam o céu, de uma montanha que não é vossa, não é minha, um topo de uma Montanha, que somos todos nós (este nós alargado que abraça o Todo) e que permanentemente dorme no seu leito da sua impermanência.

Deixo um artigo sobre a Lua Cheia deste eixo em 2018 – ler artigo

Uma excelente Lua Cheia para todas!

Espalha a beleza, partilha.

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Comments (7)

  • Rita Carreto

    Caramba!

    Ana, Ana! minha guerreira sagrada!

    Ao ler-te consegui ouvir a tua voz … Num arrepio profundo…

    A minha alma honra e agradece a tua!

    Recebo o teu trabalho como um presente precioso onde me sabe bem agarrar quando o chão treme ;P

    Abraço-te com carradas de amor e gratidão!

    • Ana Alpande

      <3 eu agradeço-te de volta, pois este espaço fértil, o meu "Topo da Montanha" é a Montanha de todos nós.

      • Marilda Souza

        Chorei ao ler tanto amor e beleza em cada palavra… Gratidão 🙏💗,Ana querida por tantas partilhas cheias de luz

        • Ana Alpande

          Abraço Marilda, com muito carinho <3

  • Alexandre Nicolau

    Usa sempre o feminino do plural por hábito, ou presumindo ter sobretudo leitoras?
    Não é o caso.

    • Ana Alpande

      Olá Alexandre! Que bom saber-te desse lado. Escrevo no feminino, porque quando escrevo, escrevo apartir de um lugar de intimidade comigo e sendo mulher é ao usar pronomes femininos, que me sinto mais verdadeira e que a minha voz se expressa de maneira mais cristalina. Quando leio textos no masculino não me demoro muito a pensar nos pronomes, simplesmente recolho da mensagem o que me faz sentido, e por isso assumo, que muitos homens fazem o mesmo quando me leem, poderá parecer estranho ao início, entendo, mas o que importa é a mensagem, se toca, se ressoa ou não. Em Inglês ou noutras línguas não teríamos esta questão 😉 mas fico grata à nossa lingua que amo e com a qual me permito expressar a minha criatividade com liberdade e respeito por todos os géneros 🙂
      Abraço com carinho e grata pelo teu contacto.
      Ana

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