CAMINHO PARA O CENTRO
No preciso momento em que escrevo estas palavras, o meu coração movimenta sangue e oxigénio do centro para a periferia e vice-versa, num circuito complexo e constante que me mantém viva.
O centro é o lugar do pulsar da vida.
O coração é um músculo complexo, composto por diferentes áreas e compartimentos que processa diferentes componentes e nunca para. Não pode parar. Para estarmos vivos o sangue precisa estar em constante movimento entre o coração e as extremidades, se esta circulação fica interrompida num ponto específico, interrompe-se a vida nesse lugar.
A verdade é que apesar do centro ser altamente venerado na nossa cultura, como uma imagem impia de estabilidade e bem-estar, a vida não acontece no centro, mas sim na periferia.
No entanto sem o pulsar do nosso centro, a vida que vivemos na periferia do nosso quotidiano não é nossa, é uma vida propulsionada por outros lugares, paisagens externas, que não são animadas pelo ritmo único do nosso Eu. Podemos ficar cativos uma vida inteira desses lugares impostos, a viver uma meia-vida. Assim como podemos nos isolar no centro, construindo muros e ameias entre nós e o que vive para lá da fronteira de quem somos.
Qualquer uma das duas hipóteses, traduz-se numa vida cuja circulação do fogo da alma é apenas o suficiente para nos fazer sobreviver.
O coração é o símbolo do centro,
do lugar que anima a vida. Muitos associam à morada da alma ou anima, em latim, aquela que dá ânimo, que reveste um corpo inanimado do pulsar da vida. Tal como o nosso coração anatómico, pulsa sangue “animado” através das nossas veias.
Muitas vezes penso na forma como a anatomia humana reflete a anatomia do cosmos. O zodíaco com os seus 12 signos lembra-me um corpo, cada signo um membro, uma parte essencial ao funcionamento do todo. No centro do zodíaco a terra, o lugar do coração, a morada da alma do mundo.
No centro da alma, a nossa psique pulsa tal como o coração anatómico, fazendo circular a seiva da vida através de cada uma das diferentes áreas da nossa anatomia psíquica, cada uma destas áreas expressa-se através dos signos e casas do zodíaco.
Muitas vezes parece que somos vítimas dos astros, apanhados na curva dos trânsitos planetários, mas a verdade é que o centro está sempre lá, à espera de nos revelar significados, esperando a oportunidade de nos mostrar o sentido maior por detrás do acontecimento ou sentimento que nos aprisiona. Metemo-nos em sarilhos, não quando a vida nos troca as voltas e retira o tapete debaixo dos pés, mas sim quando nos recusamos a participar do acto criativo. Quando nos fechamos ao fluxo da vida e deixamo-nos cristalizar por ideias, conceitos e dogmas.
O centro tece o fio que nos mostra como voltar a circular em vez de ficarmos cristalizados numa determinada situação ou evento. Se o coração tem um pulsar fraco, o sangue demora a chegar à periferia, falta-nos o ânimo, ficamos desanimados. Se o ritmo cardíaco é demasiado rápido, somos como um fósforo que faz uma
forte faísca que por um instante ilumina tudo, mas rapidamente se extingue.
Porque cada um de nós é único e cada fase da nossa vida singular, esse ritmo vai-se alterando. Então o centro apesar de ser um lugar fixo, está em constante relação com o que o rodeia.
Se é verdade que ele representa a fonte da vida em nós, é igualmente verdadeira a afirmação que este não é um local onde uma pessoa possa ficar estagnada.
O cento é o lugar onde vamos buscar alimento, energia, sabedoria e inspiração, para depois ir percorrer as estradas da vida, as veias que nos conduzem ao nosso lugar no mundo e nas relações que constroem esse lugar.
A ideia não é ficar no centro, mas sim perceber como chegar ao centro e fazê-lo frequentemente, cuidando das estradas e caminhos para que estes se mantenham desimpedidos e de fácil acesso, ao pulsar da alma.
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Com carinho
Ana Alpande
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