Lua Cheia em Peixes
Onde está a Mãe da abundância a mãe da fecunda suficiência?
Vejo a Lua preencher-se nos céus, com as mesmas dúvidas e as mesmas aflições que toda a gente, muita incerteza. Astrologicamente vivemos tempos únicos. Planetas chegam a um impasse quadrando os céus, exigindo decisões que ninguém pode afirmar se abrirão ou não as portas para este futuro incerto que se avizinha.
Talvez essa incerteza seja a nossa maior bênção no sentido em que um futuro certo é sempre um passado repetido.
Somos crianças perdidas.
Mas ficar parado no meio da floresta não é opção, ou é?
Este sagrado eixo Virgem-Peixes fala da cura e do paradoxo entre fazer/ser eficiente e entregar/render.
Entregar o quê, a quem?
Quem vai tomar conta de nós, crianças perdidas?
Quem vai iluminar o caminho neste lago pantanoso onde transitamos cegos para o que aí vem?
Que deuses mascarados de homens ou ciências são esses que ainda teimamos em seguir? Com medo de nos deixarmos ir na barca que navega aparentemente sem rumo pelo caos.
Nestes dia de Lua grávida, aquieto-me, encolhe-me como um bicho de contas na minha pedra favorita. Peço a Neptuno que dissolva os limites da minha identidade, que me faça escutar os murmúrios das estrelas que brilham abaixo do meu sacro, neste lugar onde me sento sobre o granito brilhante, a contemplar o braço da Via Láctea que adorna a abóbada.
Sinto uma presença, um abraço daquilo que nunca foi mas esteve sempre presente. Para mim o oceano de Peixes é o oceano da Mãe Divina.
No eixo Virgem/Peixes sou chamada a saber acolher o seu toque profundo e a ampliá-lo ao cuidado e serviço: a mim mesma e ao que me rodeia.
Porque não tenho linguagem para o descrever, porque qualquer linguagem se dissolve no grande oceano da eternidade, vou bater à porta da arte e daqueles que tal como eu caminham com grandes perguntas sem pressa de formular respostas.
Eis que a Mãe da suficiente abundância vem ter comigo, apresenta-se à minha frente sem me querer dar lições.
E se fossemos mães totais, mães da totalidade que somos, sem pressa de teimar nos “devias de”, “é melhor se”…
Na voz desta Mãe todas as vozes de todos os povos do planeta, de todos os tempos: Passado, Presente e Futuro, convergindo num tempo só, que é afinal de contas o tempo de Peixes.
Permito conter o que não pode ser contido durante o tempo em que dura a revelação de uma Lua Cheia e conservo dentro de mim a justa medida da Graça divina que chega com os raios de luar, para saber regressar ao Mundo e colher apenas o que me é devido, esta fecunda suficiência do arquétipo de Virgem.
Sabendo sempre que nos braços da grande Mãe tudo é de todos nós.
Que este Lua Cheia me/nos ajude a dissolver a separatividade das nossas Almas individuais da Alma do Mundo, que me/nos permita participar e sermos participados na grande dança cósmica, cuja sinfonia escuto na pedra e seus brilhantes mistérios.
Deixo-te a Mãe da Abundância da Helen Hardin para mim, a imagem do futuro desconhecido que nos aguarda.
Esta pintura tem-me consumido o espírito, não estou a falar de um consumismo, daqueles que esvaziam, delapidam, devastam. Não, este é aquele outro tipo de consumo, o fogo que consome o oxigénio e aquece os vazios, ilumina os pântanos, transforma vácuo em matéria/substância – torna o ar invisível em algo que se vê e apalpa – sagrada chama.
Para mim esta figura convida-me à presença. Como se o seu olhar neutro convidasse à participação activa, generosa do espírito das coisas, no corpo das coisas.
Há qualquer coisa de misterioso aqui, algo que tem tanto de antigo como de ultra-moderno – do mundo que já foi em rota de colisão com o que há-de vir.
No que é que acredito?
Bem, acredito que se existem Deuses, é assim que os imagino, criaturas que são ao mesmo tempo: Passado e Futuro, como se a linha contínua do tempo se curvasse sobre si mesma e formasse um círculo – ali na intercessão desse tempo curvilíneo tudo é Deus, tudo é unidade.
Há mistério traçado, desenhado em cada decisão desta pintura, como se a Helen não soubesse o que estava a fazer, como se ela mesma fosse refém do fim do tempo, presa no vácuo. E cada pincelada a tivesse resgatado, salvo da inevitável viagem para o outro lado.
Toda ela é construção, toda ela é promessa, na curva do infinito, existe uma cidade à nossa espera, cuja simplicidade profundamente complexa, espelha as profundezas da mente humana e o fogo que consome a Alma, impelindo-a para cima, rumo à luz do dia. O caminho para fora do pântano de Peixes.
Que cada uma, cada um possa mergulhar no mais profundo dos seus oceanos e extrair a imagem da Mãe que cura esta infame e desenfreada luta pelo mais, maior e melhor.
Que a inteligência prática de Virgem nos permita encontrar o lugar da fecunda suficiência ou da justa abundância, como lhe quisermos chamar, para o Eu para o Nós.
Ana Alpande
Lancei o Curso de Mandalas Astro-Lunares, onde falo entre outras coisas sobre a viagem da Heroína pelo Zodíaco. Se quiseres espreita – Ver Loja
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