INTRODUÇÃO AO CICLO LUNAR

INTRODUÇÃO AO CICLO LUNAR

INTRODUÇÃO AO CICLO LUNAR

Quando falamos do ciclo lunar é necessário fazer a distinção entre aquilo que são as fases da lua e a sua posição zodiacal.
Nas mandalas astro-lunares procuro acompanhar ambos, sendo a sua natureza diferente.

As fases da lua advêm do período sinódico da lua, que dura cerca de 29,5 dias e que vai desde a lua nova à lua nova seguinte. O período sinódico marca o intervalo de tempo que um astro demora a aparecer num ponto em conjunção ao sol. Sempre que falamos das fases da lua, falamos da relação entre a terra, o sol e a lua, sem o sol não existem fases da lua.

A posição da lua por signo refere-se ao período sideral e é medida pelo tempo que a lua leva a percorrer o zodíaco, cerca de 27,3 dias.

Todos os planetas descrevem um período sinódico em relação ao sol. No entanto, nenhum destes períodos é tão óbvio e presente como o da lua.

A dança sol/lua é, sem dúvida, a mais íntima e presente no nosso quotidiano.

Ao Sol,

os povos antigos atribuíram o dia, a luz, a energia, o dinamismo, os princípios do arquétipo masculino.

À Lua,

a vulnerabilidade, o caos, a intuição, o mistério, os princípios da energia feminina.

Da penumbra da lua nova, a luz vai crescendo gradualmente, até atingir o seu apogeu na lua cheia. Através da revelação total da luz, começa o caminho de regresso, o necessário declínio que irá culminar na lua negra, cerca de três dias antes da lua nova, o tempo da morte necessária à renovação da vida.

Este processo ocorre todos os meses no útero de uma mulher em idade fértil e repete-se, de forma menos óbvia, noutros tempos cíclicos em todas as relações que existem, inclusive nas relações pessoais. Toda a relação passa por um início, uma fase crescente, um apogeu e uma fase decrescente que culmina no fim. Ainda que esse fim não seja a cisão completa, pode, por exemplo no caso de uma relação, representar o fim de um determinado aspeto na própria relação.

O ciclo sol/lua é a mais perfeita metáfora do ciclo de uma relação, desde o seu início, ao apogeu, passando pelo declínio. Todos os meses temos a oportunidade de aprender com ele.

Uma das melhores comparações que conheço para explicar a simbologia do ciclo de lunação, é o ciclo da planta.

As fases da Lua 

Fase Crescente

Lua Nova – 0- 45º do Sol

A lua nova, marca o início de um ciclo, sol e lua estão conjuntos.

Numa conjunção temos uma potência inconsciente que urge revelar-se.

No útero escuro da terra, a semente impulsionada pela vontade liberta-se do seu invólucro em busca da manifestação.

Esta fase caracteriza-se pelo início do ciclo de uma relação. Quando falo de relação, falo de um ponto de vista abrangente e inclusivo que abarca pessoas, vida orgânica, objetos, paisagens, ideias, crenças e inclusive as várias partes de nós mesmos.

O novo ciclo

Na lua Nova surge uma necessidade de “dar à luz” ainda que não se saiba bem o quê. Começa um novo ciclo, onde a força segue um chamado inconsciente. Necessidade de começar coisas novas, impulso para a ação. Pode haver a sensação de não se saber para onde vai, de não haver rumo, de não se “ver” o caminho. Com a maturidade, vai-se aprendendo a confiar nos sentidos internos, a ver de olhos fechados.

Tradicionalmente associamos esta fase à semeadura, no entanto é importante explicar que se por um lado esta pode ser uma fase para definir objetivos e lançar intensões, também é uma excelente fase para silenciar e perceber o que nos move no momento, o que chama por nós e pede para ser iniciado e que muitas vezes pode já estar a ser sussurrado desde a Lua Balsâmica do ciclo anterior.

Quando lanço sementes na lua nova estou a definir o que quero e quais são os meus objetivos, afirmo o meu direito a desejar, ou ambicionar alguma coisa. Quando eu silencio na lua nova e atento ao meu mundo interno, eu crio um terreno para que a vida me semeie. Assumo o meu dever de ser taça, pronta a ser transbordada pela própria vida da alma.

As duas opções parecem-me complementares embora à primeira vista, pareçam antagónicas.

O caminho contemplativo proposto no curso As Pastoras da Noite promove este espaço de escuta tão rico e fértil, através do qual nos permitimos ser tecidos pela vida e os seus mistérios e validando ao mesmo tempo os nossos anseios e as nossas necessidades pessoais.

Não será essa a verdadeira aventura, dizer sim a um chamado que não sabemos onde nos irá levar, com a maturidade de sabermos o que estamos a entregar?

Muitas vezes a voz da alma faz-se ouvir para lá do eco dos desejos da mente. Por isso é necessário cultivar espaços para que a alma se expresse e nos permita aceder a uma outra visão sobre o mundo. A visão anímica.

A lua nova é a melhor altura do mês para se perceber ao que estamos a ser convidados.

Aprofundaremos a relação entre a lua nova e cada signo no capítulo lua disseminante.

Lua Crescente – 45-90º frente ao Sol

A lua começa a afastar-se, um pequeno contorno de luz surge nos céus.

Os primeiros rebentos rompem a terra e começam a percecionar a luz pela primeira vez.

Na lua crescente, cresce o impulso para a autorrealização. Perseverança, vontade de crescer, de alcançar objetivos, de ser. Sentido latente de que há uma missão a ser cumprida e algo a ser conquistado ou realizado. Existe um conflito entre a vontade de se realizar e crescer, por outro lado, existe o sentimento de querer voltar para casa, ao conforto e à segurança do que é conhecido e estável. É necessário vencer a inércia, protegendo com o devido cuidado a fragilidade do que acaba de nascer.

A lua crescente representa a fase do ciclo onde precisamos cultivar persistência, avançar com aquilo com que nos comprometemos na fase anterior. Quando estamos a querer consolidar um novo hábito por exemplo, esta é a fase das tentações, de achar que o entusiasmo por si só é o suficiente para seguir em frente. Na lua crescente e fases seguintes, é necessário aparecer, cultivar a relação com a semente e assegurar que esta tem o espaço suficiente para poder singrar.

Quarto Crescente – 90-135º frente ao Sol

A Lua está a metade do caminho, até chegar à revelação na Lua Cheia.

A planta busca o sol como fonte de alimento, embora a firmeza da terra ainda proteja o jovem rebento.

Necessidade de criar estrutura, de gerir e administrar a energia anímica e os recursos; a vida interior é tão importante quanto a vida exterior e muitas vezes a sensação de ter de escolher entre uma e outra; reconhecer a segurança e a estabilidade oferecidas pelas nossas estruturas, escolhendo entre o que ainda precisa ser protegido e o que precisa ser liberto.

Esta é a fase das escolhas, que pressupõem sempre uma avaliação cuidada do momento presente no sentido de permitir que algo avance. Urge manter o fogo da coragem e determinação, para que o jovem rebento tenha coragem de se assumir na vida externa, mantendo a proteção da estrutura para que possa resistir às assimetrias do mundo “lá fora”.

Lua Geba – Lua a 135 a 180º frente ao Sol

A revelação já se intuí. Aumento progressivo da intensidade. Aquilo que era difuso na lua nova, começa a ficar cada vez mais claro.

A planta está agora bem estabelecida e toda a sua energia está colocada no exterior.

Necessidade de autoanálise, preparação para receber a luz, vontade de contribuir, de discriminar e processar informação.

A lua geba é um convite para receber a luz da lua cheia, afinar o olhar para entender a revelação da luz de forma mais profunda. Na lua geba somos convidados a convergir a nossa atenção para que está prestes a revelar-se.

Muitas vezes com o excesso de estímulo, perde-se o presente, a visão do botão de flor que desabrocha e que revela o mistério do potencial liberto.

Na natureza vemos o reflexo da lua geba nos botões quase a despontar, na geometria bela de uma rosa que lentamente se abre e que revela no seu despontar toda a beleza da criação.

Lua Cheia – Lua a 180-135º do Sol

A Lua fica finalmente oposta ao sol, iluminando a sua sombra. A lua cheia representa a projeção total da luz, a dissolução da sombra na luz da consciência.

A planta dá flor.

Iluminação, libertação da força e energias acumuladas; a luz da consciência está agora totalmente encarnada; objetividade; realização pessoal. Contemplar o caminho feito e o caminho a percorrer. Cuidado com as distrações. Não desperdiçar a revelação.

Este é um tempo que convida à purificação. Esvaziamos e purificamos os templos, as casas, o corpo para que estes espaços arejados e limpos possam receber a luz, o insight, a graça,  uma visão mais alargada e abrangente.

Celebração da dádiva. Celebrar implica encarnar o feito, a conquista nas fibras do corpo. A revelação pode nem sempre ser agradável, mas a celebração foca-se no caminho percorrido, na jornada e não tanto na conquista. É na celebração que se cria o espaço para não desperdiçar a revelação.

A libertação da energia/consciência na lua cheia, é vista na natureza como a fase da polinização. A libertação de matéria-prima criativa que inspira e frutifica outras plantas.

Na lua cheia polinizamos e somos polinizados. Este é um tempo de inspiração e potência.

Fase Minguante

Lua Disseminante – Lua a 135-90º atrás do Sol

Após o culminar, a lua começa o seu caminho de regresso ao sol, o ciclo inicia assim, o caminho para o seu fim.

A planta dá fruto.

Vontade de partilhar os conhecimentos e experiência adquiridos; disseminação dos dons e da consciência, revelados na lua cheia. Partilhar o fruto.

Como o nome indica, nesta fase disseminamos, espalhamos e partilhamos o que nos foi oferecido. É a partilha e a disseminação do fruto que promovem e asseguram a abundância para os ciclos vindouros.

Na lua disseminante não só colhemos frutos, como os oferecemos ao mundo para que estes possam-se replicar noutros lugares e paisagens de forma diversa e singular.

Quarto Minguante – Lua a 90-45º atrás do Sol

A lua chega a metade do caminho do seu ciclo minguante. A morte espreita. Necessidade de começar a largar a bagagem. Coragem para largar o que foi conquistado e caminhar rumo a um novo ciclo.

A energia da planta começa a recolher de volta para a terra.

Crise entre o que já se viveu e a vontade de abandonar tudo rumo ao desconhecido; chegou-se ao cimo da montanha, conquistaram-se os objetivos, mas isso já não basta. Medo de perder o que se conquistou, libertar-se da experiência.

No quarto crescente passamos por uma crise onde precisamos equilibrar a tensão entre a necessidade da segurança da terra que nos dá estrutura e protecção e o chamado a libertarmo-nos para avançar para o exterior. O movimento nesta fase é justamente o oposto. Queremos regressar ao colo seguro da terra, mas ainda precisamos cumprir com o que foi estabelecido no mundo externo. A tensão no quarto minguante está entre a necessidade de reduzir os chamados externos ao essencial, para poder ter a liberdade de caminhar de forma mais leve para o mundo interno, neste regresso ao solo.

Lua Balsâmica – Lua de 45-0º atrás do Sol

A semente regressa à Terra.

Vazio, integração do ciclo, abrem-se as portas para a possibilidade do novo; aceita sacrificar-se, largar o conhecido, pois consegue ver os resultados dos seus atos projetados no futuro. Tempo do sonho e da imaginação.

 Acolhimento do vazio.

A lua balsâmica é uma fase de vazio, de entrega e recolhimento. De escutar as vozes do futuro, ouvir o eco das sementes que precisam germinar no próximo ciclo e por amor ao novo, deixar-se morrer. Bem aproveitada esta é a fase de nutrição da alma no húmus dos nossos terrenos psíquicos.

RESPEITAR A SINGULARIDADE

Existem muitos livros e publicações tanto online como em revistas, onde podemos encontrar uma série de receitas e manuais para as fases da lua, ditando o que pode ser feito em cada uma delas. Eu opto por não escrever esse tipo de receitas nem quando falo da lua, nem quando falo dos restantes astros e gostaria de explicar porquê:

– Uma receita não pode dar resposta à singularidade de um indivíduo nem tão pouco à subjetividade do seu contexto.

– A receita muitas vezes torna os nossos músculos de observação e escuta preguiçosos. Porque ao adotar as ideias e propostas de outra pessoa, ou uma formulação generalizada ou descontextualizada de um conceito, inibimos a capacidade autónoma que todos temos para reconhecer, validar e aprender com a nossa experiência pessoal.

– A receita, especialmente no que diz respeito a uma arte complexa e subjetiva como a astrologia ou a sabedoria cíclica, limita de forma violenta, a perceção da complexidade a que a nossa relação com a vida está sujeita. Justamente por esta, a relação, ser cíclica e fazer parte de um sistema aberto e extremamente complexo, logo: caótico, individual, mutável e imprevisível.

É necessário encontrar uma linguagem que alimente a imaginação.

Num trabalho diário de pertença, dedicado à subtiliza e profundidade do território da alma humana, é necessário encontrar uma linguagem que alimente a imaginação e respeite a individualidade de cada um. Daí a importância do uso de metáforas, quando nos referimos à linguagem arquetípica e simbólica. A nossa psique fala por imagens e não por conceitos.

A metáfora é o recurso linguístico capaz de abordar um assunto sem o fechar na literalidade. Com uma boa metáfora, em vez de fechar as portas da possibilidade num conceito estanque, abro caminhos para múltiplas leituras e significados, oferecendo à minha alma a abrangência necessária para que ela possa encontrar formas de comunicar comigo.

Cuidado com as instruções quando falamos de arquétipos.

É muito diferente escrever:

Na lua nova é altura para o leitor iniciar projetos e formular intenções.

ou

A lua nova é a fase onde a semente começa a despertar no subsolo.

Na primeira frase, reproduzi um significado generalizado, que reduziu a frase a duas ações/definições bastante concretas e como tal estanques.

Na segunda frase, não sou eu que digo o que fazer, em vez disso, desperto a tua imaginação, utilizando uma linguagem simbólica e universal. Aqui és tu que irás construir não só o significado, como a relação viva e imanente com esta fase da lua.

No primeiro exemplo convido-te a ser um leitor passivo, deixando implícito que possuo o conhecimento total acerca desta fase da lua, que ela não pode nada mais do que aquilo que está a ser dito.

Na segunda, convido-te a ser um leitor ativo e peço que te juntes a mim, para que possamos aprender com a lua através da individualidade de cada um, aquilo que a lua nos quer ensinar.

É necessário cuidar da linguagem quando nos referimos a arquétipos universais, de forma a não dissipar a potência do símbolo. Porque é a potência que alimenta e informa a alma humana.

Os símbolos, transformam energia em imagens.

Se reduzimos os símbolos a definições ou receitas, roubamos-lhes a potência. A energia retira-se e ficamos com um símbolo vazio. Ao longo da história temos vários exemplos de símbolos sagrados que foram reduzidos a ícones vazios em prateleiras de supermercado.

A imagem da semente é universal a todas as culturas do mundo como uma potência latente, o início de algo novo e desconhecido.

Através da universalidade do símbolo, podes chegar ao teu próprio significado, ativando a potência criativa da tua alma. Poderás assim perceber o que a semente representa para ti, respeitando o contexto e a singularidade da tua história, cultura e personalidade.

E assim, criamos um terreno fértil para a alma.

Tenho um pequeno workshop no meu site que ensina a fazer as mandalas,  deixo o link para a loja, o acesso ao curso é gratuito. Vê aqui

Um outro recurso que pode enriquecer a tua experiência é o Curso de Introdução à Astrologia Arquetípica e Vivêncial, podes assistir a primeira aula gratuitamente.  Vê aqui .

As inscrições estão abertas para o Curso que terá início em Março, podes saber mais aqui https://anaalpande.com/astrologia/cursos-astrologia/pastoras-da-noite/

Com carinho

Ana Alpande

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