LUA CHEIA / ECLIPSE LUNAR EM SAGITÁRIO
Lua Cheia, Eclipse Lunar em Sagitário e as novas religiões do séc XXI. Amanhã, para além de Lua Cheia, teremos um eclipse penumbral da Lua.
Este eclipse marca a época de eclipses no eixo Gémeos/Sagitário.
Desde 2018 que os eclipses têm “eclipsado” o eixo Caranguejo/Capricórnio, este ano teremos os últimos eclipses deste eixo: um do Sol a 21 de Junho e um da Lua a 5 de Julho – sobre este eixo, tenho vindo a falar desde 2018 e falarei mais um pouco no próximo artigo.
Mas hoje quero muito reflectir com vocês sobre as novas religiões do século XXI.
Sagitário é último signo do 3º quadrante, precede Escorpião e antecede Capricórnio. É o signo que rege a Visão, aquela que impulsiona o Homem para buscar a Verdade, procurar o conhecimento divino.
A religião enquanto expressão de uma busca de re-ligar o Homem a uma dimensão superior é regida por Sagitário. Esta busca por algo mais além – o destino para onde aponta a seta.
O signo oposto a Sagitário é Gémeos.
“Quando penso em Sagitário penso na palavra Verdade. Quando penso em Gémeos penso que a Verdade tem várias faces e sem conhecer todas elas não posso saber ao certo o que é a verdade.”
Este eclipse marca assim uma época onde este eixo (logo estas polaridades) estão prementes na cultura e nas nossas vidas pessoais.
Eu não consigo olhar para Sagitário, sem me questionar acerca de Escorpião. Para mim a qualidade da Verdade intuída e procurada por Sagitário, é ditada pela profundidade do mergulho no poço fundo de Escorpião. Isto parece-me bastante significativo olhando para a nossa história e a narrativa que tem vindo a ser contada nos últimos séculos.
Muita da nossa espiritualidade varre os temas de Escorpião para debaixo do tapete: seja com promessas de absolvições ou remédios fáceis, seja pela negação e repressão da sombra. Mesmo nos movimentos espirituais modernos continuamos a observar os mesmos padrões.
Não há tempo para psicanálise, não há tempo para o mergulho, aliás….se te rodeares de luz o mergulho nem é necessário, porque existe na espiritualidade moderna (enraizada no liberalismo), esta noção que podemos pular etapas, porque existe uma salvação qualquer que nos “livrará de todo o mal”, seja ela a vacina, o carro eléctrico, o populismo, a tecnologia, ou a Ascenção planetária.
A chegada a Sagitário sem o mergulho profundo em Escorpião, sem a recolha necessária para trocar de pele e deixar crescer novos tecidos, é perigosa.
Na nossa cultura reconheço os seus perigos na desconexão com a Terra, esta desvalorização constante da Alma do Mundo na construção da nossa identificação com o planeta.
Por mais ecológicos que nos afirmemos, continuamos a representar o planeta a partir de uma premissa “Descarteana”, assumindo-o como um bem utilitário, necessário à nossa sobrevivência, logo digno de ser salvo.
Mas…
Quando trocas de pele, precisas de tempo para ficar na caverna, não é simpático, é assustador. Mas é nessas águas cavernosas, que te encontras novamente no ponto sagrado da vulnerabilidade, esse ponto onde te ajoelhas e rendes, ajoelhar é um gesto que se faz na Terra e simbolicamente para a Terra – eu ajoelho-me, colo-me ao nível do chão – entrego-me a este lugar do mistério, ao solo e o seu sub-solo.
Entrego-me às dores, aos lutos, aos lugares devastados e deturpados, ao Deserto e ao mesmo tempo ao Paúl. Estas paisagens onde os segredos das eras aguardam que alguém apareça e permaneça o tempo suficiente, para poderem se revelar.
Quanta sabedoria guardada nos tecidos deste planeta, à espera que os heróis e as heroínas possam descer à gruta, sem pressa de regressar.
Na viagem da heroína, só depois de trocar de pele, é que esta se encontra preparada para vivenciar a luz.
Esta não é a luz do topo da Montanha de Capricórnio, não é a luz do Astro rei que aquece e doura as superfícies – essa luz que a grande maioria das religiões de origem patriarcal nos ensinou a venerar.
Não – na viagem da Heroína, a luz encontra-se dentro da caverna, uma silhueta leve abafada pela penumbra. A chegada da luz interior ocorre na passagem de Escorpião para Sagitário, sem este mergulho, sem o reconhecimento da dor, da violência, do caos, do trauma e do vazio – qualquer luz que possamos buscar e venerar será sempre uma luz que nos afasta do âmago, que ofusca a Verdade intrínseca ao ciclo da Vida/Morte/Vida.
Já repararam como toda a espiritualidade foi concebida para nos afastar da morte? Mesmo as correntes neo-espirituais, a ciência, a tecnologia, todos estes deuses e gurus dos meados do século XX, todos eles com roupas e línguas diferentes, prometem uma coisa – Poder da vida sobre a morte, da luz sobre a trevas etc…
As soluções que prometem em termos filosóficos, não são tão diferentes das soluções das religiões medievais, afinal se virmos bem os objectivos em traços largos são: acabar com o sofrimento, conquistar a imortalidade – ou seja evitar Escorpião por completo.
Acredito que o próximo ano ( 2021 ) será o ano onde a forma como comunicamos e consumimos comunicação irá mudar drasticamente.
Se os eclipses no eixo Caranguejo/Capricórnio mexeram, e vão mexer ainda mais até ao fim do ano, no poder estabelecido e na nossa relação com a autoridade, então o passo seguinte na roda cíclica é:
Deixar de ter uma referência paternal para me dizer o que é seguro, ou melhor para mim e encontrar novas referências, novas autoridades.
Em Capricórnio a autoridade atribui-se através da tradição e do status quo, em Sagitário através desta luz que traz a promessa de novos horizontes, que projecta uma imagem forte e arquetípica que me faz acreditar.
Acreditar no futuro, acreditar na meta apontada pela seta.
Acredito que o crescente descontentamento e falta de confiança em figuras políticas e de autoridade, assim como a crise no sector da comunicação, irá trazer (ou já está a trazer) novos gurus relacionados com a informação. Em breve veremos os Deuses da informação. Aqueles que de forma mais eficiente irão conseguir restaurar a confiança das pessoas na autoridade externa.
Sem este mergulho em Escorpião, sem este lugar fecundo que só pode ser facilitado pelo encontro com a sombra, não saberemos distinguir a estória da história, este futuro não será nada mais nada menos, que uma miragem. Uma forma diferente e mais rebuscada de tentar fugir da morte, da dor, do caos e da solidão, de forma a evitar o sofrimento a curto prazo.
O amor que sinto pela vida e pelo chão que piso, não me permite olhar para a frente sem abarcar nessa visão futura da beatitude, a totalidade deste planeta do qual faço parte.
Às vezes vejo na busca espiritual por um novo planeta, uma nova frequência, uma nova dimensão, esse céu arquetípico, lugar do paraíso… a repulsa (normal e justificada) pelo cenário actual que vivemos, a incapacidade de lidar com os difíceis desafios que temos pela frente enquanto espécie, e entendo claro que entendo.
Mas precisamos assumir o nosso lugar, a nossa autoridade individual, perceber que todos somos importantes. Todos fazemos parte tanto do problema como da solução. E não de trata de escolher polaridades, trata-se mais de caminhar com esta consciência que a minha pegada neste planeta articula-se entre estas duas polaridades.
Cada vez mais entendo que não vou salvar nada, mas posso caminhar melhor, com mais amor, compaixão, vulnerabilidade e fé na sabedoria deste chão que piso.
Eu sou a favor de todas as religiões, todas. Até mesmo as mascaradas de outra coisa, como a ciência e a tecnologia – desde que contribuam para nos enraizarmos na Terra, para que a honremos e procuremos de verdade ouvi-la e servi-la.
Depois de anos a querer almejar os céus, sendo filha de uma tradição cristã/esotérica, neste momento não há nada que queira mais do que me sentir cada vez mais confortável a caminhar descalça nas galerias profundas da Terra, não porque goste de sofrer, ou porque seja viciada na dor. Mas porque só acredito na luz que foi destilada pela transformação da dor, só acredito na luz que nasce do processo alquímico de restaurar narrativas, re-signicar acontecimentos, expiar a dor e o trauma não integrados.
Para mim a compaixão mora lá em baixo, junto ao lençol de água.
Precisamos de um colectivo forte de pessoas que assumam esta descida a escorpião como um acto religioso.
Em vez do re-ligar para cima, almejar alcançar a divindade aos céus, ao cosmos, ao espaço… Precisamos nos re-ligar para baixo, para as nossas raízes. Ir em busca de recuperar e restaurar a visão e missão dos nossos ancestrais, com todos os encontros implícitos com a dor, vergonha e o trauma…
Estas novas re-ligiões emergentes, precisam ter uma forte sustentação no principio feminino, na imagem do ventre, da gruta, do sangue, que como diz a Marina Colasanti em vez de correr para a morte, se entrega à Lua.
Pois só assim, podemos verdadeiramente reconhecer a face do Sol, celebrá-la, aclamá-la, sem cristalizar o nosso ego nos seus domínios.
A viagem dos heróis e heroínas é uma viagem de integração das partes na unidade, é cíclica e não tem fim. Porque a verdadeira eternidade não está na ausência da morte, mas sim na sucessão da vida.
Nestes últimos tempos, perante tanta informação e contra-informação, tenho conversado com os pássaros, tento pedir-lhes ajuda nesta arte de saber discernir a verdade, a arte de integrar este eixo Sagitário/Gémeos.
A minha vizinha águia de asa redonda tem me ensinado umas quantas coisas…
quando ela ganha altitude, normalmente circunda o território várias vezes, contemplando ora o horizonte, ora o solo; só depois de várias voltas, muda de posição.
Quando se aproxima do solo, fá-lo a pique, num mergulho intenso de cortar a respiração, nos seus mergulhos não se deixa distrair por nada, é uma seta, como a de sagitário, mas aponta para baixo.
E de vez em quando, pousa num poste e deixa-se ficar a repousar numa contemplação atenta da paisagem, é nestas alturas que lhe vejo os olhos profundos e trocamos confidências.
Honrando os seus ensinamentos e a minha curiosidade pelo culto da Deusa Pássaro, senti necessidade de criar um totem para este eixo. Ainda não o fiz, mas já tenho o esboço. Preciso cultivar esta sabedoria da águia, para navegar os desafios que o eclipse de amanhã anuncia para os próximos tempos.
Não precisamos todas?
Deixo-te um poema que talvez te inspire nesta Lua Cheia, da pena do poeta brasileiro Gildes Bezerra, um amante de pássaros e bichos, tal como eu:
Nada mais a fazer a não ser voar como os pássaros
Que voam calmos e solitários
Por uma rota que eles traçam
Assim como quem sabe
A liberdade de cór.
Nada mais a fazer,
Senão voar como os pássaros.
Ah! E tenho novidades na minha loja. Lancei o Curso de Mandalas Astro-Lunares, onde falo entre outras coisas sobre a viagem da Heroína pelo Zodíaco, na loja encontras ainda o Curso de Iniciação à Astrologia Arquetípica, onde todos estes temas são abordados em maior profundidade.
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