Lua Nova em Peixes – O Lugar do Sonho
Este Sábado é dia de Lua Nova em Peixes, a última do ano astrológico, aquela que marca o lugar do sonho.
Peixes
Peixes marca a última etapa do zodíaco, o tempo da morte e da dissolução. O que era concreto, individual e tangível regressa e desaparece no grande oceano de todas as possibilidades.
Peixes marca a chegada ao lugar a que poeticamente gosto de chamar, o grande Oceano das Mães Divinas. A casa, o templo da pureza original, onde bebemos da fonte cristalina que nunca seca.
Sol e Lua em Peixes
Pessoas com Sol ou Lua em Peixes, muitas vezes sentem uma saudade inexplicável desse lugar.
No caso da Lua essa saudade, dependendo da casa onde de se encontra pode ampliar vazios que muitas vezes parecem demasiado profundos para serem abarcados pela consciência ou explicados racionalmente.
No caso do Sol, há uma sensação de a pessoa ter vivido em tempos no paraíso e que muitas vezes se traduz numa busca infrutífera desse mesmo paraíso na terra.
A Jornada da Alma pelo Zodíaco
Independentemente dos nossos signos ou dos mapas natais, nas nossas jornadas, passamos etapas onde a energia de Peixes se activa em nós. Tempos de navegarmos oceanos desconhecidos que nos trazem o desconforto de sabermos que nestas paisagens não somos nós que escolhemos a rota, é a rota que nos escolhe.
Para muitos, entregarmo-nos à inevitabilidade da vida é um grande desafio.
A passagem por Peixes é sempre uma passagem de entrega, morte e rendição.
No meu livro A Jornada da Heroína pelo Zodíaco na 12ª etapa da jornada, referente ao signo de Peixes, escrevi o seguinte:
“Saber morrer é essencial a saber viver, assim como cultivar uma genuína curiosidade acerca da família que nos espera do lado de lá, do lado da nossa morte. Quem são esses seres, anjos, ancestrais que te esperam na ondulação do oceano? (…) É através da casa 12 que os nossos ancestrais murmuram as bênçãos que nos acompanham e protegem ao longo do caminho. Quando passamos pela casa 12 somos convidadas a viver num estado de não tempo, a abençoarmos o percurso que fizemos e o percurso que seremos chamadas a fazer. Toda a bênção vem sempre de um lugar de participação no Todo, toda a bênção ainda que individual é sempre bênção para toda a existência.”
O arquétipo de Peixes ensina-nos a libertarmo-nos do “Eu”, convida-nos a recebermos a bênção, num lugar das nossas psiques onde a identidade individual se dissolve e nos vemos unos com o grande todo.
Esta bênção que falo, é a bênção do grande Mistério e de todas as suas insondáveis criaturas.
Nestas paisagens, transformamo-nos no lugar do sonho, somos nós aqueles que somos sonhados pelo inconsciente coletivo, através do nosso consciente.
Morremos para a visão individualista em Peixes e nascemos novamente para a consciência do Eu em Carneiro, mas neste caminho não nascemos sós. Somos guiados e sonhados pelos nossos anjos, guias e ancestrais.
O nascimento
“Quando nascemos na 1ª etapa chegamos ao mundo alimentadas pelo próprio Mistério, trazemos as estrelas dentro de nós. Todo o caminho, toda a jornada da heroína consiste em comungar com o mistério do cosmos, no mais profundo corpo da Terra.”
in a Jornada da Heroína pelo Zodíaco
Esta Lua Nova, marca a última etapa de um ciclo anual, a etapa que antecede o renascimento.
Em abril, seremos convidados a nascer em Carneiro, trazendo a Alma rica e alimentada pelos banquetes da grande família, este paraíso que os nativos de Peixes conhecem tão bem.
Do simbólico ao linear
Estes lugares apesar de abstratos e não lineares, são reais e concretos no nosso inconsciente.
A Alma precisa deles, sem eles não chegamos nem à pertença profunda, nem à água que realmente mata a nossa sede de vínculo.
Ficamos presos à literalidade da vida, querendo que os sonhos se manifestem sem qualquer tradução entre reinos.
Do lugar do sonho, para o lugar da manifestação há todo um tempo e percurso de distância, assim nos ensina a vida cíclica e a jornada do zodíaco.
Os sonhos
Os sonhos chegam até nós numa linguagem que é simbólica e arquetípica, tentar reduzi-los a conceitos simplistas é como agarrar na estátua de Buda, massificá-la e vendê-la como um objecto de decoração. O poder do símbolo retira-se e ficamos órfãos, presos no mundo da literalidade e sedentos de significado.
Tentar domesticar o inconsciente nunca dá bom resultado. O inconsciente é selvagem e indomável.
Tentar massificar símbolos, empobrece tanto a cultura, quanto o individuo. Culpamos o sagrado de nos iludir e enganar, mas na verdade quem nos enganou foi a nossa percepção extrativista e massificada da realidade.
Em Peixes navegamos no oceano selvagem de todas as realidades possíveis.
Lua Nova em Peixes, o lugar do sonho
Nesta Lua Nova: Sol, Lua, Neptuno e Vénus, encontram-se em Peixes fazendo sextil a Marte em Gémeos e Saturno em Aquário.
Este é um tempo de ouro para contemplar as paisagens da casa 12 que citei nos parágrafos acima.
Um tempo de ouro para escutar o sonho que está a ser sonhado para nós, para purificar a nossa vontade individual e preparar o renascimento solar na Lua Nova de Carneiro.
Sonho Vs Desejo
Atualmente, porque cultivamos uma narrativa individualista, falamos muitos nos nossos sonhos e confundimos sonho com desejo.
Sonhar implica imaginar, criar numa outra realidade, num outro tempo/espaço. O sonho é um lugar concreto, universal, multidimensional e plural, toda a realidade é filha desse lugar. Desejo é algo totalmente diferente. Consegues perceber a diferença?
O sonho acontece no inconsciente, é algo que nasce no espírito e que a Alma traduz para a consciência.
Acedemos ao sonho durante o sono e durante estados de transe, sejam estes causados por factores externos como substâncias psicotrópicas ou por estados internos, jejuns, doenças, actividades repetitivas e hipnóticas, ou através da arte.
Estes são os portais para o lugar do sonho em nós.
Ao chegar ao lugar do sonho é preciso ter cuidado para não o contaminar com a mente literal. Os sonhos não falam na linguagem na mente. Sonhos falam de forma arquetípica e muitas vezes a sua tradução para a mente concreta precisa de tempo, paciência e cuidado.
Tenho sonhos e insights escritos que tive há anos e só agora começo realmente a percebê-los. Ou melhor, só agora me oferecem a bênção de uma revelação profunda.
Mesmo quando em terapia partilho sonhos e estes são interpretados dentro de um certo contexto, procuro não fechá-los na interpretação. Mantenho com eles um diálogo aberto, o mesmo diálogo que mantenho com a peças de arte que produzo. O espaço que procuro construir e reproduzir no curso A Arte de Tecer a Vida.
Se fechamos a mensagem de um sonho numa interpretação simplista ou linear matamos a força simbólica, limitamos a acção curativa do reino de Peixes e enfraquecemos o a força do símbolo contido no sonho.
Aproveitar o fim
Dia 16 Mercúrio chega a Peixes, marcando a altura do ano em que as nossas mentes se desligam da necessidade de justificar, comprovar e explicar e ficamos mais permeáveis à contemplação do Mistério.
Dia 21 o Sol e Vénus (dia 22) entram em Carneiro, marcando o Novo Ano Astrológico, o nascimento da vontade com a chegada do Sol a Carneiro.
Mas agora…
Agora é tempo de entrega e purificação. Antes do nascimento da vontade individual é preciso purificar as nossas necessidades individualistas através do sonho coletivo. O sonho que sonha a nossa existência e do qual somos todos filhos e filhas. Falei sobre este sonho e o papel dos nossos ancestrais neste artigo: https://anaalpande.com/2021-trauma-colectivo-e-o-lugar-do-sonho/
Que sejamos o lugar do sonho, este lugar onde o sonho dos nossos ancestrais se manifesta.
Estas são as minhas sementes de Lua Nova.
Amanhã estarei ao vivo no Instagram às 15h hora do Brasil, 18h hora em Portugal, onde falarei sobre os 4 Elementos na Astrologia e sobre esta Lunação, inscreve-te no meu canal do Instagram @anaalpande.
Com carinho
Ana Alpande
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