Saí de casa

Saí de casa

Saí de casa
para
escutar 
o 
meu eco
livre 
da projecção de si mesmo. 

Saí de casa 
porque,
a casa
confina 
protege 
o que em mim - só 
sobrevive 
em 
quatro paredes.

Saí de casa
porque, 
as palavras 
estavam 
viciadas 
e 
o ar
já não transbordava 
promessa 
nem 
possibilidade.

Quem somos nós?
Para lá das paredes 
que confinam 
e 
protegem 
as imagens 
de nós 
mesmos.

Quem somos nós?
Quando 
o vento agride
o equilíbrio 
e
desafia 
o viciado  
sistema 
vestibular.

Quem somos nós? 
Quando 
a estrela polar
é
capaz 
de 
indicar, 
não quem somos, 
mas 
onde estamos?

Quem somos nós?
Quando 
o verbo Ser 
perde
seu obsessivo trono
e  
Estar 
passa a ser corpo, 
contorno volumoso 
relação viva 
e
co
dependente.

Seremos então, os contornos
definidos 
pelo brilho 
de 
uma estrela?

Uma dança de elementos 
imprevisível 
nascendo 
e 
morrendo
uma 
e 
outra 
vez,
enquanto 
os olhos do tempo 
derramam suas lágrimas  
ausência…

Será a estrela polar 
grande anciã

a que sustenta a lanterna, 
a que liberta o eco,
a que ilumina 
a estrada de regresso - casa? 

De regresso, 
ao coração do tempo.

Ao perigoso 
desconhecido 
agora. 

Ana Alpande

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